Uma carreira solo falida somada a um sentimento caça-níquel são fatores que costumam preceder as agora tão comuns retomadas na carreira. Mas o retorno de Sade, que lança Soldier of love 10 anos após o último disco de estúdio, é exatamente o contrário: avessa à atenção da mídia, ela brinca ter ficado presa numa caverna durante esse tempo.
O tempo distante da música não prejudicou em nada a nigeriana criada na Inglaterra e sua banda, que não hesitou com o convite de gravar novamente. Na verdade, a falta de “compromisso” com o showbizz e de expectativa só contribuiu, e o álbum transparece o cuidado e a calma com que foi feito. Soldier of love não tem nenhuma Smooth operator ou No ordinary love, mas é um disco consistente recheado de belas e calmas canções (de amor, quase sempre).
Flerte com o hip hop
As batidas marcantes e voz suave (sem trocadilhos) de Sade encontram o trip hop em The moon and the sky, música que abre o disco, e mais sutilmente em Bring me home, com batida mais dançante e guitarra marcante. O reggae aparece em Babyfather, que tem vocais de apoio de Ila Adu, a filha de 13 anos de Sade, e Clay Matthewman, filho do guitarrista e saxofonista Stuart Matthewman. “É só o amor, eles dizem, que faz você se sentir desse jeito”, eles cantam, na música mais feel-good do disco.
É o flerte com o hip hop, entretanto, que mais aparece em Soldier of love, seja mais óbvio, como em Skin, ou diluído entre as músicas, resultando num r&b mais suave e melancólico. A música-título também vem mais agressiva, com vocais por vezes quase falados, baixo pulsado e um ou outro yo! nos backing vocals. A bateria marcial faz o trocadilho com o título, soldado do amor, enquanto Sade canta sem piedade “Eu perdi o uso do meu coração/ mas ainda estou viva”.
Nas músicas mais calmas, Be that easy se destaca. Pop com um toque folk, a balada romântica parece pronta para sonorizar as aventuras de um casal fictício (ou não).
“Não poderia ser tão fácil/ tinha que ser bem mais difícil”, canta quem logo antes havia dito que “há uma longa e dura estrada pela frente”, em Long hard road. Sade ressalta sempre as dificuldades em Soldier of love, mas isso não faz dela uma pessimista.
Sempre em tempo, ela avisa que “vai dar tudo certo”. Dez anos depois, ela decidiu que o prazer de compor supera qualquer desvantagem que a fama possa trazer.
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